segunda-feira, 13 de setembro de 2010

CONSULTA – Que cuidados tomar ao buscar um sócio não-financeiro para me ajudar a tocar meu próprio negócio?

Empreendedor do Rio Grande do Sul, em dúvida de como decidir sobre a inclusão de um parente em sua sociedade, apresentou-nos esta questão tão comum, mas muito pouco debatida no meio acadêmico e empresarial.
Por Humberto Andrade

Empreendedor do Rio Grande do Sul, em dúvida de como decidir sobre a inclusão de um parente em sua sociedade, apresentou-nos esta questão tão comum, mas muito pouco debatida no meio acadêmico e empresarial.

Esta é uma decisão que cada vez mais precisa ser tomada com bastante critério e muito mais razão do que emoção.

Muitas pessoas partem da afinidade que possuem com amigos e parentes para montar uma sociedade. No entanto, não prestam muita atenção ao que, de fato, as tornaram pessoas afins.

O ditado popular é sábio: “amigos, amigos, negócios à parte”.

Para facilitar este processo decisório, responda com sincera profundidade a duas perguntas, quando for avaliar se uma pessoa pode ser sócia de seu empreendimento. Eis as questões:

1ª Questão: Já existe uma relação de confiança preestabelecida?

Você e seu potencial sócio já experimentaram juntos situações onde a confiança mútua foi colocada à prova? Quando há o “olho no olho” percebe-se verdade nas palavras e nas expressões do outro? Já prestou bem a atenção aos fatos pequenos? Neles, é que muitas vezes percebemos o quanto nosso potencial sócio é confiável. Como é a relação dele com o cônjuge, com a família, com os filhos, com outros amigos, com subalternos, com outros sócios? Essas relações dizem muito sobre o comportamento real de cada pessoa. Uma sociedade vai requerer sempre confiança entre os sócios. Não a confiança nos caminhos apontados pelo outro. Todos podem errar aqui com a melhor das boas intenções. Mas é fundamental confiar no que o outro lhe diz e como lhe diz.

Sem confiança, é melhor recuar. Mas se esta etapa for vencida, temos que saber de fato o que é confiar em termos de uma sociedade. Não precisamos “confiar desconfiando” como pregam alguns escaldados que aprenderam com amargas lições ao longo da vida empresarial. Talvez seja melhor viver com o conselho de um velho empresário bem-sucedido: “prefiro ser traído do que passar a vida desconfiando”. Nem tanto, nem tampouco. Equilíbrio é tudo!

A chave da questão é: confiança não substitui controle! As pessoas que mais gostamos na vida também podem errar com a gente e trair nossa confiança. E o pior: muitas vezes isso não acontece por deslealdade. Por isso, controlar um negócio independe do grau de confiança que temos nas pessoas. Às vezes aqueles de quem mais gostamos nos prejudicam porque confiamos demais e achamos que isso é suficiente para eliminar o controle. E o erro que cometem na maioria das vezes tem a ver com falta de motivação, organização e/ou disciplina, ignorância e incompetência. Não é à toa que a sabedoria popular (mais uma vez ela) criou o dito: “Senhor, cuida dos meus amigos porque dos inimigos cuido eu”.

2ª Questão: Os valores éticos, morais e materiais da pessoa combinam com os meus?

Não é uma verdade absoluta dizer que o bom sócio é aquele que é diferente da gente; que complementa a gente. Há diferenças úteis e diferenças muito perigosas para uma sociedade.

A afinidade do tipo “sangue do meu sangue” ou a “amizade do futebol” ou mesmo a “parceria ideal das baladas” não são garantias de nada, considerando-se a afinidade que se precisa num negócio.

Você já sabe, mas não custa lembrar mais uma vez: “amigos, amigos, negócios à parte”.

Por outro lado, não quer dizer que se há amizade ou parentesco a sociedade está fadada ao fracasso.

O que importa, realmente, é a afinidade de valores entre as pessoas. Se os sócios possuem valores éticos, morais e materiais semelhantes, a base para uma sociedade virtuosa está lançada. É fundamental que pensem e ajam de forma convergente com relação a questões como:

a) O modo de tratar as pessoas: sócios, clientes, fornecedores, funcionários, outros.
b) Forma de trabalhar e tomar decisões: individualizada ou em equipe.
c) Visão sobre como aplicar o dinheiro da empresa: economizar e gastar com moderação ou ser arrojado e assumir riscos mais altos.
d) Grau de ambição com o negócio.
e) Modo de solucionar impasses: consenso, discussão, imposição...
f) Noções de responsabilidade social, fiscal e econômica.
g) Ego, ambições materiais, necessidade de status, apego a posses etc.

São os valores que formam a cultura de uma organização. Se os sócios divergem em questões de princípios básicos, dificilmente a empresa conseguirá se perpetuar. Os problemas e as discussões são freqüentes em todas as empresas e famílias onde os valores são muito distintos. E, nestes casos, o insucesso é o final mais previsível.

Já no que tange à conhecimentos, habilidades e atitudes (o CHA que define as competências profissionais), quanto mais os sócios-operadores do negócio forem diferentes e complementares, mais o empreendimento terá chances de prosperar. Pois, “cada um no seu quadrado” poderá contribuir da melhor forma para o sucesso da empresa. Sucesso este que será mais provável se os valores (alguns listados acima) forem convergentes e capazes de unir as pessoas que comandam o negócio, fortalecendo e amadurecendo cada vez mais a relação.

Conclusão: uma sociedade precisa ser ancorada em uma relação de confiança mútua, porém sem melindres, pois a confiança não pode jamais dispensar o rigoroso controle do negócio. E precisa ser construída com base em valores convergentes e, preferencialmente, de acordo com as melhores práticas éticas, morais e existenciais. Afinal, pessoas que pensam muito diferente sobre o que sentem em relação ao mundo, dificilmente terão motivos suficientes para manter uma vida em comum, como numa sociedade ou num casamento.


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